quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Anotações sobre Fernando Pessoa

Para Fernando Pessoa, vive-se só no presente.
"Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas
existirem.
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema."

Há em Fernando Pessoa uma inteligência discursiva.
Para ele o futuro faz do tempo uma decadência
constante.
A certeza do futuro é o mal presente.
A posição em relação ao futuro consiste no desejo
de o negar,
de não o encarar de frente e sobretudo de descrer.

"A vida? Não acredito
A crença? Não sei viver!"

A lei da fatalidade, própria do passado, apoderou-se do
futuro: não deixa lugar à esperança, ao projeto, ao desejo.
Por isso, não há mais do que um futuro passado.

Frases bruscas:
"Adia-te, presente absoluto."
"Véspera de não partir nunca!"

A condensação das idéias contraditórias resulta
dramaticamente num verso emblemático.


"As férias em que existo."

A metáfora "férias" designa um intervalo entre o nada e o nada.

Obs: A frustração é um dos traços mais vincados
da obra pessoana.
Contudo, o fracasso referido em todos os tons não é fruto de
um temperamento medíocre e sem capacidades;
pelo contrário, o sujeito afirma a
intensíssima vida interior,
as suas imensas possibilidades,
a sua alma aberta a tudo;
e opõe-lhe, paradoxalmente,
a grande irrealização.

Importa salientar a convergência na composição
de vários temas:
- a vida sonho
- a separação de si próprio
- o tempo alheio à vida e à inquietação
- o tédio
- o passado perdido
- o tempo destruição desaguando na consciência
da vida frustrada,
o que revela ser este um dos motivos
mais importantes da poesia de Pessoa em relação
ao tempo;
motivo a que talvez só possa ser equiparada a da
insatisfação.


"Eu, enfim, que sou um diálogo contínuo,
um falar alto incompreensível,
alta noite na torre...
Eu, o poeta, enviado do Acaso, às leis
irrepreensíveis da vida.
Eu, o fumador de cigarros por profissão
adequada...
Eu, este degenerado superior sem arquivos na alma,
sem personalidade com valor declarado.
Eu, o investigador solene de coisas fúteis,
que era capaz de ir viver na Sibéria...
Eu que tantas vezes me sinto tão real
como uma metáfora."
A. de Campos


"A morte que o futuro trará para as
esperanças,
contamina-as previamente e fá-las mortes
desde já."
Fernando Pessoa

"Porém o futuro não é só dom.
Não nos pede apenas esperança e confiança
Exige trabalho, esforço e conquista."
Fernando Pessoa

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